Crítica: Cidades de Papel



Não adianta esperar que "Cidades de Papel" repita o mesmo sucesso de "A Culpa é das Estrelas", ambos adaptações de livros do escritor sensação John Green. O mais recente adota um tom leve, com bom humor e mistério, enquanto a produção lançada ano passado - e campeã de bilheteria no Brasil - tem seu mérito na forte carga dramática. Ou seja, na capacidade de levar 99,9% dos espectadores às lágrimas.

Com menos choro, "Cidades de Papel" apresenta uma história sensível sobre adolescência, primeiro amor, desilusão e amadurecimento. Nessa ordem mesmo. Um filme que dialoga, principalmente, com os “young adults” (jovens adultos), na faixa entre 14 e 29 anos. Talvez esteja aí seu ponto fraco: um público de identificação específico. Um apelo não tão popular como o do casal Hazel e Gus.

A trama gira em torno de Quentin, um jovem que está se formando no colégio e possui como meta cursar faculdade, casar e ter filhos. Tudo está esquematizado para conquistar até os 30 anos. Ele sabe que seu plano é um pouco entediante, mas, ainda assim, está satisfeito, pois gosta de viver uma rotina. Até porque é somente isso que conhece: ir à escola e curtir com os amigos Ben e Radar, dois nerds.

Sua perspectiva muda quando, certa noite, a bela vizinha Margo Spiegelman invade seu quarto. Quentin é apaixonado por ela desde a infância. Eles cresceram juntos, viraram melhores amigos, mas acabaram se afastando durante o colégio. Atualmente são estranhos um para o outro. Apesar disso, o rapaz ainda nutre uma paixão platônica pela moça.

Quando Margo invade seu quarto e convida-o para executar um plano de vingança ele prontamente aceita. Torna-se o motorista de fuga para as travessuras dela contra o seu ex-namorado. As poucas horas com Margo tiram Quentin da inércia e o deixam à flor da pele, como ele mesmo diz: “Agora sinto o coração batendo no meu peito”. E ela responde: “É assim que deveria se sentir sua vida inteira”.

A jovem sacode o mundo de Quentin. Margo é adrenalina, emoção e imprevisibilidade. Ela questiona o futuro medíocre planejado pelo rapaz e apresenta sua inquietude quanto ao sonho americano, a vida cotidiana e a falsidade disso tudo. Abismado, ele encanta-se ainda mais pela garota, por essa vida sem regras, por suas aventuras épicas e, claro, pelo olhar magnético que o atinge.

Após os momentos compartilhados, Margo desaparece. Inicia, então, a busca de Quentin pela verdade, seguindo pistas deixadas pela própria jovem. Mesmo distante, Margo fará que ele saia de sua zona de conforto. Quentin deixará de tomar decisões seguras e irá matar aula, comparecer a festas da escola e embarcar em uma viagem de carro cruzando vários estados do país. Tudo pela primeira vez. Como o próprio cartaz do filme anuncia, é preciso se perder para se encontrar.

O rapaz, obcecado por Margo, fica cego pela luz que ela emite. Porém, em sua jornada, ele irá perceber que o amor é uma idealização, na qual se cria uma pessoa que na verdade não existe. O filme desmitifica o mito de Margo para Quentin e o mostra qual é o verdadeiro milagre de sua vida.

O diretor Jake Schreier, do fraco "Franck e o Robô", comanda essa aventura romântica com leveza, sem esquecer a profundidade por trás da história. "Cidades de Papel", em um olhar pouco inspirado, pode soar simplista, mas possui mais camadas do que aparenta. Relaciona-se fácil com outras produções nesse mesmo estilo, como "As vantagens de ser Invisível" e "500 Dias com Ela", sendo inclusive mais acessível.

O roteiro, assinado por Scott Neustadter e Michael H. Weber, os mesmos de "A culpa é das Estrelas", valoriza a trama de John Green e acrescenta, inclusive, novas cenas para a história. Enfatiza com ternura a passagem da adolescência para o mundo adulto, o amadurecimento. Para isso, utiliza o carisma dos protagonistas, Natt Wolf e Cara Delevigne, novatos no cinema.

"Cidades de Papel" prova que John Green não é apenas modismo ou marketing literário. Suas narrativas possuem conteúdo e identificação com o público-alvo, principalmente por abordar assuntos difíceis, como doença ou desilusão amorosa, de forma natural e transformadora. Já pode-se esperar para 2016, "Deixe a Neve Cair", com estreia marcada para 9 de dezembro, e no ano seguinte, "Quem é Você, Alasca?".

Nota: 8,2

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