Crítica: Amor



O fim da vida não abre exceções. E "Amor", novo filme do diretor austríaco Michael Haneke, apresenta esse término através do penoso envelhecimento de um casal. Desenvolvido inteiramente dentro de um apartamento, a história acompanha Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant), ambos pianistas e intelectuais, que parecem não se abalar com os problemas da idade. Isso até precisarem encarar a degradante realidade quando Anne sofre um AVC e tem seu lado direito paralisado.

O laço que une o casal é tão forte que Georges não demonstra incomodar-se com os novos cuidados à esposa. Ele descarta a possibilidade de levá-la a um hospital ou interná-la em um asilo. Quer Anne ao seu lado, sob sua supervisão. Essa dedicação apresenta-se como prova do companherismo e do afeto que sentem um pelo outro. Um amor alheio ao restante do mundo, o qual não parece existir além das janelas daquele cenário comum à dupla.

O espectador observa atenta e lentamente a transformação da charmosa e elegante artista em uma pessoa doente, incapaz de ter sua independência e até mesmo a racionalidade. O humilhante estado da velhice é mostrado por meio de cenas do cotidiano, como tomar banho e se alimentar. O incansável marido tem ciência de qual será o destino de sua amada – e o seu próprio. E não luta contra isso. Aceita.

As poucas visitas que circulam pelo soturno apartamento são da filha, de um aluno de música e duas enfermeiras, além de uma pomba que persiste em entrar no recinto. Seria uma analogia para dizer que o que se encontra ali está morto, abandonado ou próximo do fim? A resistência à vida não tarda a enfraquecer e o desfecho, assim como o restante da exibição, é desesperador.

Premiado com a Palma de Ouro em Cannes e indicado a cinco categorias no Oscar 2013, incluindo Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro, "Amor" destaca-se pelo fiel retrato das fragilidades diante da morte, com um olhar poético e triste sobre a relação desses personagens. O ponto alto, sem dúvidas, vai para as atuações impecáveis dos dois ícones do cinema francês. A fantástica performance de Emmanuelle Riva é de uma entrega tão verdadeira que assombra mesmo após a sessão. Digna de todos os prêmios. 

Nota: 7,5

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