A Mulher de Preto e O Despertar



O terror à moda antiga está de volta aos cinemas. Dois longas-metragens lançados este ano apostam numa fórmula que a indústria cinematográfica volta e meia retoma as telas: a da mansão mal-assombrada. Os filmes adentram o universo de casarões isolados, longe da civilização, habitados por fantasmas nada amigáveis. "A Mulher de Preto" e "O Despertar" são exemplos de que uma ambientação assustadora pode provocar mais calafrios do que uma cena de mutilação na linha de "Jogos Mortais".

"A Mulher de Preto" recebeu maior divulgação por ser estrelado pelo astro da saga Harry Potter, Daniel Radcliffe. Ele vive nas telas o advogado viúvo Arthur Kipps, que, em viagem de trabalho, precisa cuidar da documentação de um cliente que morreu em um vilarejo no interior da Inglaterra. Para isso, hospeda-se na casa do falecido, sem esperar que o local é assombrado por uma sinistra criatura.

A tal mansão é o ponto forte do filme. Afastada da cidade e cercada de recifes que são encobertos quando a maré sobe, a casa permanece por diversos momentos como uma ilha, deixando Arthur preso em um terreno pertencente ao sobrenatural. Essa situação confere o clima de terror ideal para trabalhar com tensão constante e sustos cada vez mais intensos. Em uma sequência de deixar os cabelos em pé, o advogado passa cerca de 15 minutos sendo atormentado continuamente pela habitante da casa. Sufoco total.

Por outro lado, "O Despertar" pontua a narrativa com sustos eficientes. Cada aparição do fantasma faz o espectador saltar da poltrona. E não são poucas vezes. A assombração responsável por todo esse nervosismo vive em um internato para meninos na Inglaterra do pós I Guerra Mundial. A escritora e especialista em desvendar fenômenos paranormais, Florence Cathcart (Rebecca Hall), é chamada por um dos funcionários da escola para investigar o espírito de uma criança que ronda o casarão.

Mais uma vez a ambientação soturna é a chave do bom funcionamento da produção. A casa gigantesca e distante de qualquer princípio de contato humano ganha tons assustadores quando as crianças deixam o local para passar as férias com suas famílias. A história, então, passa a utilizar mais e mais os ambientes mergulhados na escuridão, a fim de colocar à prova o ceticismo da protagonista perante fatos sem explicação científica. Um exemplo é a desesperadora cena da casa das bonecas.

Bebendo na fonte de filmes com "Os Outros" e "O Orfanato", os novos projetos utilizam como figura central imponentes casas vitorianas. Além disso, por se ambientar por volta de 1920, as cenas ocorrem muitas vezes à luz de velas, o que aumenta a tensão na tela. Toda essa atmosfera pesada contribui para uma narrativa lenta, mas bem construída por ambos roteiros.

O que deixa a desejar é a forma como as duas histórias se encerram. São explicações fajutas para mistérios tão bem elaborados e desenvolvidos. O clima de suspense e as boas atuações (Radcliffe e Hall dedicados) quase são deixadas de lado perante a derrapada na conclusão. Mas, o que fica ao final é o gênero do terror recebendo maiores cuidados, sem apelar para sanguinolência ou sustos fáceis. "A Mulher de Preto" e "O Despertar" são entretenimentos arrepiantes e de qualidade.

"A Mulher de Preto" - nota: 7,0
"O Despertar" - nota: 7,5

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