Uma Noite Fora de Série


O encontro dos astros das séries mais engraçadas da televisão só poderia render um filme divertido. Tina Fey, protagonista e criadora de “30 Rock”, e Steve Carell, de “The Office”, formam um casal comum do subúrbio que de tanto que trabalham e cuidam dos filhos, acabam não tendo tempo para realizar programas românticos. A solução é marcar um dia por semana no qual contratam uma babá e saem para ir ao cinema e jantar em restaurantes chiques. Cansados da rotina, tomam a atitude de roubar uma reserva em um dos bares mais badalados de Nova York e acabam sendo confundidos com outro casal que está chantageando um chefão do crime organizado.

A história pode não apresentar muitas novidades, mas a química entre Tina e Steve funciona - não como um par romântico, mas como um time de comediantes em sintonia. A dupla reinterpreta os personagens dos seriados que estrelam e conseguem, ainda assim, render boas risadas. O clima leve de comédia misturado com aventura mantém o interesse pela trama manjada, que se fortalece pelo timing característico dos atores. Por vezes é possível ter a sensação é de que estamos assistindo um episódio estendido de “30 Rock”, só que sem a trupe do Rockfeller Center.

Nota: 7,5

Fúria de Titãs


Zeus, Medusa, Perseu, Hades. Até poucos meses atrás, os personagens da mitologia grega pareciam ter sido esquecidos pelo cinema. O retorno começou com o juvenil “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”, que deu uma nova roupagem para as histórias dos deuses do Olimpo. Ao invés de renovar, a superprodução seguinte, “Fúria de Titãs”, utilizou do clássico de 1981 – de mesmo nome – e injetou muitos efeitos especiais, doses de ação e elenco estelar para atrair as platéias mais jovens.

Começa a refilmagem com Perseu, o filho de Zeus, tendo a missão de salvar a princesa Andrômeda para proteger a cidade de Argos, que está sob ameaça de destruição por parte de Hades, deus do inferno. O vilão pretende libertar o monstro Kraken para punir os humanos que deixaram de adorar os deuses. A saga de Perseu segue por diversas conquistas e leva o espectador a uma aventura empolgante com direito a cavalos voadores, escorpiões gigantes, bruxas, deuses e monstros.

Em comparação com o original, a mitologia deixa de ser a base do roteiro e se transforma em suporte para uma produção típica do verão norte-americano. Sam Worthington visto recentemente em “O Exterminador do Futuro: A Salvação” e “Avatar”, convence como o filho dos deuses, transmitindo suas motivações e firmeza nas batalhas. O filme apenas peca na representação computadorizada da Medusa, que na verdade é uma mulher e não uma cobra, e na recriação dos deuses, principalmente Liam Neeson, que aparece prateado e brilhante.

Nota: 7,5

Daybreakers


Numa época em que os vampiros são classificados como seres sem presas, que brilham na luz e não se alimentam de sangue humano, a produção “Daybreakers” surge, ao menos, para tentar honrar a originária fama dos sanguessugas. A história se desenrola a partir de uma situação nova no gênero: quase totalidade da raça humana se transformou vampiro. Os poucos que sobraram vivem escondidos e sob a constante ameaça de servirem como alimento para a população dos dentuços. Na escassez de sangue puro, a expectativa de vida torna-se mínima, reduzindo os morto-vivos em subespécies horrendas, que, desesperadas matam os demais vampiros para se alimentar.

A situação é de caos e medo na cidade em que se passa a trama. Cartazes com figuras das Forças Armadas promovem a captura dos humanos. O governo prevê que o estoque de sangue deve terminar em menos de um mês. Essa atmosfera é retratada com imagens azuladas e escuras, pouca utilização de trilha sonora e alguns sustos. A produção inicia com a tensão necessária para se tornar um ótimo exemplar dos filmes de vampiros.

“Daybreakers” não sustenta o argumento inicial porque decide transitar através de desdobramentos comuns, sem aproveitar o diferencial do projeto e direcionando a narrativa até uma matança de vampiros chata que ao invés de assustar dá sono. Ethan Hawke e Sam Neil – sem comentar a péssima Isabel Lucas - estão ali para pagar o aluguel, já que não se esforçam para aparentar que são sugadores de sangue. O reduto do filme é aproveitar que o gênero está em alta e tentar descolar um espaço ao lado de “Anjos da Noite” na locadora. Até porque as diferenças entre os dois não são muitas.

Nota: 5

Alice no País das Maravilhas


“Alice” foi apenas o primeiro. Pode ir se preparando para uma enxurrada de produções cinematográficas em 3D que irão recontar as clássicas histórias infantis. Os anúncios começaram a ser divulgados após a confirmação do novo recorde do filme: em três meses da estreia mundial, ultrapassou a marca de 1 bilhão de dólares e está atrás apenas de “Avatar” e “Titanic”. Descartando as arrecadações de bilheteria, o longa-metragem é indiscutivelmente um banquete visual, reproduzindo exatamente o que foi proposto pela extasiante divulgação. Assim, a experiência de assistir no cinema, aliado com a tecnologia 3D, é para deixar o público maravilhado com o universo grandioso criado por Tim Burton.

A história homônima de Lewis Caroll é recontada e transformada em uma aventura fantástica, com a introdução de uma guerra entre dois reinos, monstros, cavaleiros do mal, dilemas amorosos e muito mais. Não dá para esperar fidelidade ao original – até porque o roteiro condensa o livro do título e sua continuação, “Através do Espelho”. As primeiras cenas exibindo uma Alice adolescente sendo pedida em casamento já demonstram que estamos frente a frente a uma nova proposta. Para aproveitar a viagem, é preciso mergulhar no universo lisérgico do conto e não se preocupar com suas origens.

O chapeleiro maluco, a lagarta que fuma narguilé, o coelho serelepe e o gato risonho estão no filme, cada um com suas excentricidades adoráveis. A produção consegue valorizar esse punhado de personagens bacanas, embora sempre tenha alguns que se destacam mais, como é o caso dos gêmeos gordinhos com suas façanhas humorísticas e a Rainha Vermelha, de uma maldade divertida – mérito da perfeita atuação de Helena Broham Carter. Já a jovem Mia Wasikowska, que tem o perfil ideal para interpretar a protagonista, fica apagada perante os seres de Wonderland, que são infinitamente mais atrativos.

A base do filme pode ser “Alice no País das Maravilhas”, mas definitivamente essa não é a história contada na tela. Tim Burton utilizou o ponto forte do conto original - a situação atípica de uma menina cair em um buraco, diminuir de tamanho e conviver com seres bizarros em uma terra desconhecida - e esculpiu para a sua musa um universo novo com maior desenvolvimento dentro e fora do mundo fantástico, sem deixar de lado o seu toque gótico inconfundível. A tradução rendeu uma aventura deslumbrante, que, assim como o original, encanta em suas particularidades.

Nota: 8

Tudo Pode Dar Certo


O som do jazz começa a tocar antes mesmo do início dos créditos. A tela permanece escura e as primeiras palavras são apresentadas em branco. Segue o nome do filme e logo depois a lista de atores em ordem alfabética. O modelo continua até o encerramento com o nome do diretor, que certamente também será atribuído ao cargo de roteirista. Essa sequencia é uma marca registrada dos filmes de Woody Allen, que desde o início da carreira utiliza como abertura de seus projetos o mesmo padrão. Aquele espectador bem informado já reconhece o artifício e pode ter uma ideia do que virá a seguir: essencialmente dramas cômicos e adultos sobre o sentido da vida.

Nesse ano, a novidade é que depois de bandas pela Europa, o cultuado cineasta retornou aos Estados Unidos - mais precisamente à sua querida Nova York - para contar uma de suas típicas comédias. Em “Tudo Pode Dar Certo”, Boris (Larry David) é um senhor arrogante e pessimista que dá abrigo a uma garota do interior (Evan Rachel Wood) que estava vivendo nas ruas da cidade como um mendigo. A afinidade entre eles não demora para acontecer e, aos poucos, a menina se torna pupila dos ensinamentos distorcidos do velho.

A história dessa vez é levemente previsível, mas não deixa de ser curiosa. O sabor de seus filmes, como sempre, está nas sutilezas do roteiro, que opta por altas doses de sarcasmo e ironia muito bem articuladas. O protagonista que profere a maior parte desses desaforos é Larry David, o comediante de “Crub Your Enthusiasm”, que encara com perfeição o alterego do diretor. São dele os melhores e mais engraçados momentos da produção. A neura característica dos personagens de Allen encaixa-se na trama com maestria e é explicitada através das reclamações e teorias particulares de Boris.

Woody retoma temas abordados em trabalhos anteriores como “Crimes e Pecados”, quando refere-se ao universo indiferente ao qual estamos inseridos ou à “Manhattan”, no momento em que aborda o relacionamento entre uma jovem menor de idade e um homem maduro. A visão cética do diretor está refletida no próprio título do filme, “Wathever Works”, uma clara menção à teoria defendida por Boris sobre o amor. Para ele, esse sentimento não é tão puro: o amor é reduzido a “qualquer coisa que funcione” e que seja boa para ambas as partes. E de certa forma, como observamos no longa, ele tem razão.

Como muitos diretores, Allen segue o seu estilo de forma fiel e apresenta mais do mesmo. O inusitado é que esse repeteco é muito mais gostoso do que a lista de produções descerebradas lançadas ultimamente. Embora seu novo exemplar não apresente tanto frescor, o roteiro inteligente já rende um entretenimento muito acima da média. De “defeitos”, pode-se queixar do desfecho conferido ao pai da menina e o tratamento raso e artificial dado ao seu possível namorado. E mais detalhe: não seria nada ruim se tivesse menos entradas de coadjuvantes. Assim, o melhor do filme, Boris (ou Woody personificado), comandaria o projeto do início ao fim. Nada mais justo.

Nota: 8,2

Lembranças


O burburinho em volta de “Lembranças” deve-se apenas pela presença de Robert Patinsson. Se não fosse por ele, essa produção batida estaria sendo lançada e esquecida nas prateleiras da locadora.

O jovem astro realmente atua nesse filme – ao contrário da saga “Crepúsculo” - e até manda bem no papel de um adolescente atormentado que perdeu o irmão e passou a culpar o pai pelo ocorrido. Através de uma aposta, ele conhece uma garota igualmente revoltada que também sofreu uma perda familiar: a mãe foi assassinada na sua frente quando era menor.

O drama romântico investe na química do casal, que ao menos funciona, mas deixa de lado o aperfeiçoamento do roteiro. A relação entre os personagens é tão enrolada que pouco se desenvolve. Alguns diálogos são vergonhosos, como aquele presenciado no primeiro jantar da dupla. O clímax do filme é de uma obviedade incrível, podendo ser previsto no momento que se descobre que a garota é filha do policial – não teve spoiler. Fora o encerramento, que os roteiristas introduzem um fato histórico perdido e sem contexto algum apostando que os espectadores iriam achar original. Bem longe disso.

“Lembranças” acaba se importando mais com as fãs do galã vampiro, ao tentar provocar as lágrimas das “crepusculetes” com um final supostamente surpreendente e termina perdendo o foco. Com a direção voltada para questões menos relevantes, a trama não chega a ganhar a profundidade pretendida, e deixa o resultado não mais que insosso.

Nota: 4

A Estrada


“Está tudo bem. É apenas mais um terremoto”. Assim, com a face calma e serena, que o personagem de Viggo Mortensen acalma o seu filho nas primeiras cenas de “A Estrada”. Em um mundo devastado pela tragédia, onde a comida é escassa, a gasolina um bem precioso e o canibalismo algo normal, os terremotos representam ameaças mínimas. Afinal, nessa situação, a morte não é o pior dos males.

Acompanhamos a narrativa através do olhar desse pai, que luta para proteger o filho e sobreviver em uma terra sem humanidade. “A Estrada” não explica o real motivo do cenário de destruição – até porque este não é seu propósito. A realidade vista na tela mostra um ser humano primitivo, que sem as normas da sociedade se vê matando por comida e estuprando para satisfazer necessidades. A forma crua como encara os temas lembra “Ensaio Sobre a Cegueira”, que, por sinal, apresenta muitas outras semelhanças.

A visão apocalíptica proposta por Cormac McCarthy, autor do livro do qual o filme se baseou, é de total desolação. Os dias são cada vez mais frios, os incêndios se alastram com rapidez e as árvores enfraquecidas se desprendem e vão ao chão. A luta pela sobrevivência levou a formação de gangues armadas, que invadem as casas em busca de comida, matando as famílias que esperam pelo pior. Os suicídios em massa já se tornaram comuns.

O tema pesado é intensificado pela abordagem tensa do diretor John Hillcoat, que mostra-se bem sucedido em trabalhar com uma trilha sonora angustiante e sem apelar para cenas de ação. Como de costume, Viggo Mortensen entrega uma performance firme e competente. Mesmo aparecendo em pequenos (e elucidativos) flashbacks como a esposa e mãe nos primeiros momentos pós-catástrofe, Charlize Theron contribui para sensibilizar de maneira pontual na história.

Em uma realidade como essa, com o mundo definhando e sem qualquer perspectiva de um futuro decente, a razão de existência daquele pai se torna treinar o filho para que este possa sobreviver sozinho. A luta dos refugiados é corajosa e triste. Uma proposta de ‘apocalipse’ como essa não pode ser comparada aos espetáculos vistos em produções como “2012”. O que “A Estrada” oferece é muito mais crítico e relevante.

Nota: 8

Preciosa - Uma História de Esperança


Claireece “Precious” Jones é uma adolescente de 16 anos, negra, pobre, obesa, violentada pelo pai e maltratada pela mãe. Ela também tem um filho portador de síndrome de Down e foi suspensa da escola porque está novamente grávida de seu pai. Na primeira cena do filme, Preciosa aparece fora de foco, caminhando no meio de uma multidão. Apesar de ser um artifício comum no cinema, essa imagem desfocada descreve exatamente a personagem: uma garota como qualquer outra, diluída nesse mar de gente que luta diariamente por dignidade.

Mesmo com todos esses problemas, ela não deixa de ter sonhos típicos da adolescência: quer ser famosa, ter um namorado e ganhar bastante dinheiro. As fantasias de Preciosa são apresentadas em cenas quentes, coloridas e exageradas, que quebram o dramalhão que o filme poderia atingir. Esse intercâmbio de sonho e realidade rivaliza com a direção pesada de Lee Daniels, contribuindo para uma maior agilidade no andamento da história.

Gabourey Sidibe, cujo perfil é perfeito para interpretar a sofrida Preciosa, perde espaço quando entra em cena Mo´Nique como sua mãe. O desempenho poderoso da atriz é um dos trabalhos mais impressionantes de atuação dos últimos anos – não por menos, venceu os principais prêmios na categoria. A relação entre as duas se torna o grande conflito da produção, logo após a garota ser aceita em uma nova escola e receber a ajuda da professora e de uma funcionária do serviço social.

“Precisa” não é tão deprimente como sugere. O filme retrata a existência penosa de uma jovem, que aos poucos, vai conseguir lidar com as desventuras que aparecem em seu caminho. E, ao contrário do subtítulo nacional, “Preciosa” se descobre um filme sobre mudança e determinação.

Nota: 7,4

Os Melhores Filmes de 2009

Como já é tradição no CinemaX, chegou a vez de divulgar os melhores filmes do ano que passou. 2009 foi marcado por muitas promessas e poucos resultados satisfatórios. As produções investiram bastante em marketing, tentando promover o retorno das massas ao cinema, e esqueceram de valorizar o mais importante: um bom roteiro. Foram poucos os filmes que se destacaram durante o ano. Geralmente, a lista dos melhores engloba cerca de 40 longa-metragens, dos quais é feita uma triagem para selecionar os top top. Dessa vez foram menos de 20 na disputa. É, a situação não foi das melhores em 2009.

Veja abaixo os filmes que mereceram integrar o ranking:

500 DIAS COM ELA
O que poderia ser uma comédia romântica comum não atinge esse nível de obviedade porque subverte os clichês do gênero, aproximando-se dos dramas realistas de Woody Allen somados ao universo pop do autor inglês Nick Hornby.

ABRAÇOS PARTIDOS
Almodóvar estabelece uma embalagem refinada para o seu cinema, centrando a história naquele universo pessoal e único que é tão bem conhecido e admirado.

AMOR SEM ESCALAS
Jason Reitman explora o ser humano e suas relações sociais em um filme adulto com roteiro brilhante e atuações no ponto.

AVATAR
O mundo criado por James Cameron é um universo impressionante, que mescla elementos gráficos de cair o queixo com a densidade filosófica de crenças de um povo poderoso.

BASTARDOS INGLÓRIOS
Quentin Tarantino reinventa a história da Segunda Guerra com muita violência, humor negro e, obviamente, uma infinidade de cultura pop. O Coronel Landa nunca vai ser esquecido, assim como Brad Pitt e seu ‘buongiorno’.

DISTRITO 9

‘Distrito 9’ é uma ficção científica adulta, tremendamente atual e eletrizante. A angústia do protagonista após a contaminação ainda ecoa na mente do espectador por muito tempo.

JULIE & JULIA
A gastronomia continua dando bons frutos no cinema. A diretora Nora Ephron concilia duas linhas narrativas, passado e presente, dando consonância para as histórias das Julias - além da majestosa presença de Meryl Streep.

MARY AND MAX
Baseado em uma história real, ‘Mary and Max’ é sobre dois seres solitários, uma menina de oito anos e um homem de 44, que se correspondem à distância e se tornam amigos. A animação exalta a amizade e termina como uma linda história de vida.

NINE
Mesmo com um ritmo irregular, ‘Nine’ consegue ser sexy, contagiante, belo e emocionante. Um espetáculo do início ao fim. Basta deixar-se levar pelo ritmo da música.

O SOLISTA
O diretor Joe Wright já se tornou sinônimo de qualidade. Com ‘O Solista’, ele realiza um filme humano, que não insiste no modelo básico da história de superação. Ao todo, representa uma lição de aprendizado e amizade.

UP – ALTAS AVENTURAS
Mais um acerto da Pixar. ‘Up’ é uma aventura infantil que consegue ser divertida e tocante. Os dez minutos iniciais já valem todo o filme. Um primor de entretenimento para toda família.

WATCHMEN – O FILME
Adaptação considerada impossível, ‘Watchmen’ revelou-se um longa-metragem feito de um fã para outros fãs. O filme de super-heróis é mais profundo do que do que se espera, apresentando camadas interessantes que elevam o teor do projeto.

Menções honrosas: O Fantástico Sr. Raposo; Preciosa; Zumbilândia; Arraste-me Para o Inferno; Amantes; Duplicidade e Inimigos Públicos

Cadê os Morgans?


Esta é terceira parceria de Hugh Grant com diretor Marc Lawrence. Os dois já trabalharam juntos em “Amor à Segunda Vista” e “Letra e Música”. Nesse sentido, “Cadê os Morgans?”, assim como os demais filmes do cineasta, é uma comédia romântica previsível que vale apenas pelos atores coadjuvantes e pelo humor britânico do personagem de Hugh Grant.

No filme, Meryl e Paul Morgan são um casal bem-sucedido que está separado após a traição dele. Na busca de uma reconciliação, os dois marcam de se encontrar e, na saída do restaurante, acabam presenciando um assassinato. Com suas vidas em risco, são mandados para a cidade de Ray, no interior dos Estados Unidos.

A jogada aqui é assistir os novaiorquinos limitados à uma vida sem tecnologia e distante da cidade grande. Sem alternativas, a dupla é obrigada a conviver e redescobrir um sentimento que ainda existia em ambos. Sarah e Hugh não apresentam o carisma necessário para alavancar o filme. Ela aparece sem muita expressão com sua estética plastificada e ele apático e desmotivado com as situações que enfrenta.

Na falta de química dos protagonistas, quem se destaca são os coadjuvantes Sam Elliot e Mary Steenburgen, como o casal caipira que abriga as testemunhas em sua casa. Os veteranos aproveitam o tempo em cena e tornam seus personagens mais interessantes que os astros. Também ganham a simpatia, a dupla de assessores que cuidam das agendas lotadas dos Morgans.

Apesar dos clichês recorrentes do gênero, “Cadê os Morgans?” apresenta um humor irônico que salva a produção – graças ao personagem de Grant. Quanto ao resto, é mais do mesmo.

Nota: 5,5

Invictus


“Invictus” retrata um período decisivo na história da África do Sul. Em 1994, o recém presidente Nelson Mandela utilizou de um esporte tipicamente inglês, o rugby, para terminar com as diferenças raciais no país. Esse episódio verdadeiro e inspirador foi registrado com certa deficiência pelo competente diretor Clint Eastwood.

A produção apresenta um conjunto de cenas truncadas, orquestradas por um roteiro com pouca direção, que confere ênfase em certos momentos para questões políticas, depois passa para as partidas de rugby e termina com sentimentalismo duvidoso. A tentativa de abordar com profundidade várias esferas do fato proporciona quebras de ritmo constantes, sem conseguir fluir com êxito na história. Perdidas no roteiro também estão cenas que procuram gerar suspense, como aquela em que um furgão misterioso se aproxima de Mandela, ou então quando vários planos focam um avião prestes a colidir com o estádio.

No meio do furacão, Morgan Freeman desempenha uma boa interpretação como o ídolo do povo e tem no personagem a atuação pela qual sempre será lembrado. Em contraponto, Matt Damon não encontra chances de se destacar como o capitão do time de rugby. O único momento que conhecemos melhor a sua figura é quando ele se mostra inseguro perante o convite de conhecer o presidente.

“Invictus” sequer foi indicado aos principais prêmios (basicamente referentes a atuações) no Globo de Ouro e Oscar. Entre a nova e tão respeitada fase de produções dirigidas por Clint Eastwood, o filme mostra-se um projeto inferior do cineasta. Ironicamente o filme que poderia ser o mais fácil de realizar, conforme a fácil identificação do público com o episódio, acabou se revelando o mais falho de sua carreira. Apesar das ressalvas, o longa pode ser assistido com um olhar despreocupado e revelar-se um bom (e até emocionante) passatempo.

Nota: 7

Entre Irmãos


Sam e Tommy são irmãos. O primeiro é casado, tem duas filhas e desempenha uma ótima carreira como capitão do exército. O segundo é um malandro, que quando não está atrás de um rabo de saia fica aplicando golpes e se metendo em confusão. O filme inicia quando Sam está partindo para servir no Afeganistão e Tommy está voltando após um período na prisão. Um chega e o outro vai embora.

“Entre Irmãos” é uma refilmagem do filme dinamarquês, “Brodre”, dirigido por Susane Bier. Os direitos do original foram comprados logo após a exibição do longa no Festival de Sundance em 2004. Na versão americana quem protagoniza o triângulo amoroso é Tobey Maguire, Natalie Portman e Jake Gyllenhaal.

Essa situação à três se desenvolve a partir do momento em que Sam é dado com morto. A notícia abala a família e Tommy passa a consolar a viúva do irmão, Grace. Tempos depois, quando Sam aparece vivo - depois sofrer barbaridades na guerra - a situação inverte. O bom e mau irmão trocam de figura. Sam está amargurado e começa a desconfiar que sua esposa transou com o irmão. Estranho e violento, nem mesmo as filhas passam a gostar de sua companhia. Enquanto isso, Tommy que antes era largado acabou encontrando um lar e tomando para si a vida que o irmão levava.

O filme aborda principalmente as relações familiares e a inevitável comparação entre irmãos. O retorno de Sam vai direcionar a trama para um clímax que deixa questões ambíguas – o que é interessante – e outras solucionadas de forma apressada, que terminam comprometendo levemente o desenvolvimento narrativo.

“Entre Irmãos” concilia drama familiar com thriller de guerra, uma estratégia perigosa que termina dando certo. O forte apelo contra as barbáries da guerra constitui uma segunda trama, mostrada através do ocorrido com Sam durante o tempo em que foi tido como morto. Essa vertente ganha maior peso com a mensagem final do projeto. O diretor Jim Sheridan (“Em Nome do Pai”, “Meu Pé Esquerdo”) trabalhou com um dramalhão difícil – e assim como o original - conseguiu torná-lo bastante pertinente e, acima de tudo, real.

Nota: 7,5

Ilha do Medo


Dezenove anos depois de “Cabo do Medo”, Martin Scorsese embarca pela segunda vez, em toda sua filmografia, no gênero do suspense. A atmosfera de mistério é oferecida desde a primeira cena, quando observamos em meio à neblina uma balsa levando o agente federal Teddy Daniels e seu colega Chuck Aule para a ilha Shutter. A dupla está ali para investigar o sumiço de uma paciente que escapou de maneira inexplicável do hospital psiquiátrico instalado no local.

A partir dessa premissa, o diretor começa a introduzir pistas, como em um filme de David Lynch, instigando a curiosidade e desafiando o público a desvendar o que existe por trás daquele emaranhado de cenas que podem ou não ser reais. A estratégia é semelhante a do seriado “Lost”, que com o decorrer vai apresentando cada vez mais personagens e, com eles, mais enigmas.

Tanto mistério por nada. A resolução de “Ilha do Medo” é tremendamente óbvia, e pode ser descoberta antes da metade do filme por qualquer espectador que já assistiu alguns bons exemplares de suspense e terror. A quantidade elevada de mistérios e subtramas procura dar a impressão de complexidade – o que se mostra pura enrolação. O roteiro ainda tenta justificar os momentos anteriores com um encerramento chocante e possivelmente denso ao mostrar DiCaprio em uma cena dramática que acontece em um lago.

O forte da produção é, sem dúvida, o comando do veterano diretor, que realiza um trabalho elegante e por vezes artificial. Esse exagero visual pode ser identificado através da trilha agressiva, das atuações caricaturais, diálogos forçados e uso de tecnologia grotesca. Todos esses elementos com o propósito de homenagear os filmes de suspense das primeiras décadas do cinema, incluindo também os trash. O clima criado por Scorsese é soturno e tenso, perfeito para um roteiro que visa estimular a mente de quem assiste.

Infelizmente, o projeto não consegue fazer todos os seus instrumentos funcionarem em harmonia. Com esses problemas o labirinto pelo qual Teddy Daniels percorre mais atordoa do que proporciona entretenimento satisfatório.

Nota: 7

O Segredo de Seus Olhos


Representante do cinema argentino no Oscar 2010, “O Segredo de Seus Olhos” entrou na disputa e surpreendeu. As apostas anunciavam com disparada vantagem a vitória do alemão “A Fita Branca”, realizado pelo diretor Michael Haneke. O prêmio acabou nas mãos dos nossos "hermanos" por uma questão de simpatia com a obra. Entre os dramas indicados, o filme era o único que introduzia um humor contagiante, responsável por tornar a história densa em um entretenimento mais leve.

Na trama, Benjamin Esposito é um oficial da justiça aposentado que decide escrever um livro baseado em um caso que aconteceu há 30 anos. A investigação do passado envolve o estupro e o consequente assassinato da esposa de um bancário. Para encontrar o culpado, ele conta com a ajuda de seu colega e amigo Sandoval e da nova chefe Irene.

O caráter de filme policial é diluído pelas tiradas cômicas do roteiro e as situações dramáticas envolvendo Benjamin e Irene, que protagonizam um caso de amor não concretizado. Nesse caminhar, o filme apresenta diálogos simplórios, cenas com propósito único de serem engraçadas e um ritmo bastante lento. O ator principal (e preferido do diretor do filme Juan José Campanella) não consegue injetar o "fogo" necessário para o importante romance da trama e permanece durante todo tempo com uma cara de “sono eterno”.

“O Segredo de Seus Olhos” ganha pontos com seu curioso final, que conclui a história de forma muito interessante e dando valor para os conflitos dos personagens. Mesmo com um resultado irregular, a fórmula deu certo: tornou-se o filme nacional de maior sucesso de bilheteria na Argentina nos últimos 35 anos e ainda arrecadou o prêmio mais importante do cinema.

Nota: 7,3

Os Homens Que Encaravam Cabras


Quatro astros de Hollywood e uma cabra. Estes são os integrantes da divertida (e monótona) comédia sobre um programa militar que incentiva o desenvolvimento de poderes paranormais. Baseado no livro de Jon Ronson, a trama aproveita teorias da conspiração tipicamente americanas para criar cenas absurdas e colocar os atores em situações constrangedoras.

“Os Homens que Encaravam Cabras” possui um humor particular, história non-sense e ritmo desequilibrado. Com esses atributos pode-se jurar que é um filme dos irmãos Coen. Por incrível que pareça não é. A direção é do desconhecido Grant Heslov, ator coadjuvante de vários filmes e produtor de seriados, que parece ter se inspirado na filmografia da dupla de cineastas.

Quanto ao elenco, George Clooney é quem paga os maiores micos como um dos soldados com poderes mentais. Jeff Bridges encara o general paz e amor. Ewan McGreggor é o jornalista que investiga o caso. Kevin Spacey volta as telas como o vilão desta história difícil de acreditar. Mesmo com um time de bons atores e um tema interessante, o filme não consegue evitar os altos e baixos durante a sessão, gerando uma inconstância que compromete o aproveitamento como um todo.

Até as cabras, no filme, morreram de tédio.

Nota: 6,5

O Amor Pede Passagem


Nos últimos meses uma enxurrada de filmes com a palavra “amor” invadiu os cinemas. “Amor Sem Escalas”, “Idas e Vindas no Amor”, “O Amor Acontece” e “O Amor Pede Passagem”. Quanta criatividade dos "tradutores". No meio dessas supostas comédias românticas se destacam um sensacional drama indicado ao Oscar e um bonitinho filme que agrada os apaixonados.

“O Amor Pede Passagem” é esse filme simpático citado no primeiro parágrafo. Na trama, Sue Claussen é uma executiva que, entre suas viagens de trabalho, se hospeda em um hotel de beira de estrada. Lá, ela conhece Mike, filho dos donos do local, que parece estar disposto a conquistá-la. O garoto apresenta problemas de sociabilidade e luta para que a charmosa e solitária hóspede lhe dê atenção.

A eterna fórmula dos filmes de romance funciona aqui, principalmente, pelo talento do ótimo Steve Zahn. A apática Jennifer Aniston até consegue tornar sua personagem interessante e entrega uma boa interpretação. O roteiro redondinho só peca por uma virada totalmente dispensável envolvendo um mosteiro budista. Do restante, a trama “tocante” e a boa química da dupla principal fortalecem essa produção simples e eficaz na sua proposta.

Nota: 7

Por Uma Vida Melhor


Sam Mendes quer ser um cineasta plural. Ele já passeou pelos gêneros do drama (“Beleza Americana”, “Foi Apenas Um Sonho”), guerra (“Soldado Anônimo”) e noir (“Estrada Para a Perdição”). Agora chegou a vez de realizar um filme menor, com roupagem indie e proposta de cinema independente.

“Por Uma Vida Melhor” conta a história de um casal de trinta e poucos anos que está esperando um filho. Como os dois não possuem empregos fixos, decidem realizar uma viagem pelos Estados Unidos na busca do melhor lugar para construir uma família. Em uma espécie de “road movie”, a dupla passa de cidade em cidade visitando amigos e conhecidos.

O filme retrata uma geração de jovens com mais de trinta anos que se encontra sem formação acadêmica, sem emprego decente, sem perspectiva de um futuro melhor. São adultos perdidos que acabam acumulando obrigações sem ao menos saberem cuidar de si próprios. Esse casal que precisa de ajuda vai encontrar na jornada pessoas ainda mais problemáticas e bizarras que eles. Os personagens secundários falam tanto absurdos – e são tão caricaturais – que chegamos a achar que a sanidade está nos protagonistas.

Sam Mendes, que é um diretor renomado por seus filmes maduros, pisa na bola com essa produção simplória e sem graça. Não há como comparar os demais longas-metragens do cineasta com este último exemplar. Peca até mesmo nos principais quesitos: roteiro, atuações e direção. Mendes introduziu na sua brilhante filmografia um deslize imenso chamado “Por Uma Vida Melhor”. Cabe agora recompensar em um novo projeto.

Nota: 4

Abraços Partidos


Após uma longa filmografia, o cinema de Almodóvar continua o mesmo: as cores berrantes se sobressaem, os personagens caricatos declamam suas barbaridades, os figurinos seguem extravagantes e as situações mesclam o exagero com a realidade. “Abraços Partidos” é definitivamente um filme do diretor. Considerado pelos críticos “uma obra menor de Almodóvar”, o longa-metragem pode ser comparado a um novelão, mas o importante é que somado a esse “drama mexicano” temos os elementos característicos (e tão adorados) do cineasta.

O filme inicia com duas narrativas, passado e presente, mostrando como o escritor Mateo Blanco ficou cego e perdeu Lena, o amor de sua vida. O roteiro escrito pelo próprio diretor é uma colcha de retalhos, que entrelaça vários personagens, e comprova o talento do realizador como um grande contador de histórias.

Almodóvar reuniu um time de atores com o qual já trabalhou diversas vezes (Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo e Rossy de Palma). Esses rostos já são referências marcantes ao universo criado pelo diretor. Dessa vez, quem se destaca no elenco é Penélope com uma adorável imitação de Audrey Hepburn. Além dessa homenagem ao cinema, temos a apresentação da metalinguagem como elemento fundamental do roteiro. É nos sets de filmagem de um filme dirigido por Mateo (Homar), que ele conhece Lena (Cruz), uma atriz estreante e esposa do empresário que está financiando o projeto. Os dois imediatamente se apaixonam.

“Garotas & Malas” é esse filme dentro do filme, e Almodóvar cria uma auto-referenciação quando confere a essa “película” um visual kitsch e o humor digno de suas produções de início de carreira – algo semelhante a “Mulheres a Beira de Um Ataque de Nervos”. O contraste entre a realidade da trama principal de “Abraços Partidos” e o colorido vibrante de “Garotas & Malas” é evidente.

Tão importante quanto o texto, as imagens nos filmes do diretor representam um artifício gráfico de muita expressão no seu cinema. Nesse novo exemplar, ele realiza belas cenas que traduzem, sem diálogo algum, os sentimentos dos personagens. É o que acontece quando Lena e Mateo fazem sexo pela primeira vez e a câmera se liberta dos planos estáticos delirando de prazer junto deles. O mesmo já não ocorre quando ela tem que se deitar com o marido. As transições de cena também são elegantes, como aquela em que a imagem de uma pessoa descendo as escadas é suavemente transposta para um rolo de filme em execução.

“Abraços Partidos” vai apresentando mais camadas do que se imagina e suas histórias não parecem ter fim. Essa profusão de conflitos pode sugerir uma relação com os dramas de telenovelas. Porém, a comparação não chega a se concretizar porque Almodóvar estabelece uma embalagem refinada para o produto, centrando a história naquele seu universo pessoal e único que é tão bem conhecido e admirado.

Nota: 8

Rever filmes e o mistério dos Coen

Já me aconteceu de odiar um filme na primeira vez que assisti e em uma segunda exibição acabar gostando. Isso geralmente ocorre com filmes que vi quando era criança e não tinha maturidade para compreender temas voltados para uma platéia adulta.

Gosto de cinema desde muito pequeno. Vivia na locadora, assinava revistas de cinema, comprava outras publicações nas bancas de jornais, revestia as paredes do quarto com cartazes. Com essa paixão desde cedo, assisti com 10 anos “Despedida em Las Vegas”, 11 “Boggie Nights” e 13 “De Olhos Bem Fechados”. Todos filmes densos e difíceis. Óbvio que, na época, não gostei de nenhum. De lá para cá, se passaram quase dez anos e revi cada um deles. Foi como se eu nunca os tivesse assistido. Apreciei esses filmes com surpresa e fiz uma nova leitura. Às vezes isso acontece.

Agora, é mais difícil mudar de opinião em filmes recentes, quando se assiste novamente pouco tempo depois. O que pode ocorrer é passar a gostar mais de um filme que eu já gostava porque em uma segunda sessão pude reparar em outros detalhes. De vez em quando sinto essa necessidade de rever algumas produções que não gostei muito. É o caso de “Um Homem Sério”, indicado ao Oscar e ovacionado pelos críticos. Odiei o filme. O pior filme dos Coen que eu assisti. Filme chato. Parado. Sem originalidade. Atrativos zero.

Acabo sentindo uma obrigação de rever esses filmes para tentar descobrir o que outros tanto gostaram. Assistir com um novo olhar, ir disposto a embarcar no filme e desprender de preconceitos – algo que sempre deve ser feito. O problema é que algumas vezes a expectativa em torno do projeto fala mais alto e o longa-metragem resulta em uma decepção para o espectador.

No caso dos irmãos Joel e Ethan Coen, já vou confessando que não sou fã da dupla. Não gosto do cinema que eles fazem. Não acho que realizaram alguma obra-prima. O premiado “Onde os Fracos Não Tem Vez” apresentava um assassino bacana interpretado por Javier Barden e tinha a história baseada no romance de McComarc (e mal adaptado por sinal). “Queime Depois de Ler” rendeu algumas risadas e olhe lá. “Fargo” é interessante e talvez o melhor filme deles – briga com “Gosto de Sangue”. O restante da filmografia não me serve.

Pois é, tenho implicância mesmo. Não gosto do humor deles, dos finais interrompidos, das cenas sem propósitos, do ritmo lento quase parando, dos diálogos chatos. Parece que a dupla cria uma história para poder estragá-la no decorrer do filme. E o pior é que são aclamados por isso. O sucesso dos Coen é um mistério para mim. Vejo muita gente reclamar de seus filmes, principalmente o grande público. Uma opinião que vai ao contrário da dos críticos e dos festivais que lhe rasgam elogios e oferecem prêmios.

Depois desse falatório revoltado esclarecendo o meu parecer quanto aos irmãos cineastas, repito que gostaria de rever “Um Homem Sério”. Talvez por algum motivo desconhecido eu consiga enxergar o que alguns “cabeções” conseguiram. Como não vai dar tempo de conferir pela segunda vez antes da cerimônia do Oscar, deixo a crítica da primeira impressão que tive do filme. Convido você a encarar o desafio de assistir o filme e escolher o seu lado.

Um Homem Sério

O novo exemplar dos irmãos Joel e Ethan Coen (“Onde os Fracos Não Tem Vez”, “Queime Depois de Ler”) é uma mistura de filme “tudo dá errado na vida do protagonista” com “homem levado a loucura”. O coitado em questão é Larry Copnik, um professor de física casado e com dois filhos. Tudo ocorre normalmente na classe média até que sua mulher diz que tem um amante e quer o divórcio. Esse é o primeiro passo para tudo desabar.

Ao invés de criar uma história em que o personagem tem um “dia de fúria”, os diretores e também roteiristas preferem deixá-lo como um covarde que não faz nada para sair da pior, optando apenas em se aconselhar com rabinos. A estratégia pode até soar interessante mas não é bem executada. O ritmo do longa-metragem é lento, muitas cenas não levam a lugar algum e para variar a narrativa não é completada, ou seja, termina sem encerramento ou moral.

Um Homem Sério” é mais um filme dos Coen que deixa o público frustrado. O melhor do projeto é Michael Stuhlbarg (praticamente idêntico ao Joaquim Phoenix), que interpreta o personagem do título e tem um desempenho muito convincente. Fora isso, o longa-metragem encontra-se perdido e devendo muito em qualidade para os ótimos exemplares do Oscar deste ano.

Nota: 3

Apostas para o Oscar 2010

O bolão para acertar os vencedores de cada categoria da 82ª cerimônia do Oscar já começou. Seguindo o modelo criado pelo crítico Pablo Villaça, as minhas apostas estão separadas em quem deve vencer, a explicação dessa escolha, o meu voto pessoal e quem eu não gostaria que levasse o prêmio para casa. A entrega das estatuetas acontece no dia 7 de março. Vamos aos lances!

MELHOR FILME
Avatar
Um Sonho Possível
Distrito 9
Educação
Guerra ao Terror
Bastardos Inglórios
Preciosa
Um Homem Sério
Amor sem Escalas
Up – Altas Aventuras

Vai vencer: “Avatar”

Explicando a escolha: A disputa está tensa esse ano. “Avatar” ou “Guerra ao Terror”? Enquanto as opiniões variam, já me decidi faz tempos em apoiar a superprodução de James Cameron. “Guerra ao Terror” é um filme tão mediano que não se compara ao esplendor criado pelo filme dos Navis.

Qual seria o meu voto: entre os dez indicados ficaria com “Amor Sem Escalas”, o meu preferido. Seguido depois de “Distrito 9” e “Bastardos Inglórios”.

Se vencer, eu mato um: “Guerra ao Terror” e “Um Homem Sério”. Nem deveriam estar entre os indicados.

MELHOR DIRETOR
Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror)
James Cameron (Avatar)
Jason Reitman (Amor Sem Escalas)
Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios)
Lee Daniels (Preciosa)

Vai vencer: Kathryn Bigelow

Explicando a escolha: Bigelow realizou um bom trabalho e deve se tornar a primeira diretora a vencer o Oscar. O curioso é imaginar uma mulher por trás de um filme como “Guerra ao Terror”.

Qual seria o meu voto: Quentin Tarantino que ainda não venceu e realmente merece.

Se vencer, eu mato um: não gostaria que “Guerra ao Terror” levasse prêmio algum, mas essa categoria é, na minha opinião, o ponto mais forte do filme.

MELHOR ATOR
Jeff Bridges (Coração Louco)
Morgan Freeman (Invictus)
Jeremy Renner (Guerra ao Terror)
George Clooney (Amor Sem Escalas)
Colin Firth (Direito de Amar)

Vai vencer: Jeff Bridges

Explicando a escolha: não assisti a “Coração Louco”, “Invictus” e “Direito de Amar”. Pelos boatos, o grande favorito é Bridges com sua interpretação de um músico fracassado que recupera a carreira – algo semelhante à “O Lutador” no Oscar passado. Ajuda o fato dele já ter sido indicado outras vezes.

Qual seria o meu voto: entre “Amor Sem Escalas” e “Guerra ao Terror”? adivinhem.

Se vencer, eu mato um: Jeremy Renner está bem no filme. É melhor se contentar com a indicação.

MELHOR ATRIZ
Sandra Bullock (Um Sonho Possível)
Meryl Streep (Julie & Julia)
Carey Mulligan (Educação)
Helen Mirren (The Last Station)
Gaboury Sidibe (Preciosa)

Vai vencer: Meryl Streep

Explicando a escolha: depois de 16 indicações e apenas três prêmios, Meryl Streep deve ser novamente consagrada. Fazem mais de vinte anos que a atriz levou seu último Oscar para casa. Em “Julie & Julia” ela mostra que é a grande dama do cinema e que sua concorrente, Sandra Bullock, tem ainda muito caminho a trilhar.

Qual seria o meu voto: Meryl Streep.

Se vencer, eu mato um: Esperava mais da atuação da “preciosa” Gaboury Sidibe.

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Christoph Waltz (Bastardos Inglórios)
Woody Harrelson (O Mensageiro)
Matt Damon (Invictus)
Stanley Tucci (Um Olhar do Paraíso)
Christopher Plummer (The Last Station)

Vai vencer: Christoph Waltz

Explicando a escolha: abocanhou praticamente todos os prêmios de 2010 e deve repetir no Oscar. Não há quem assista “Bastardos Inglórios” e não fique impressionado com a performance do Coronel Landa.

Qual seria o meu voto:
Heil, Hitler.

Se vencer, eu mato um: qualquer outro.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Mo’Nique (Preciosa)
Anna Kendrick (Amor Sem Escalas)
Vera Farmiga (Amor Sem Escalas)
Maggie Gyllenhaal (Coração Louco)
Penelope Cruz (Nine)

Vai vencer: Mo´Nique

Explicando a escolha: Assim como Waltz é unanimidade na categoria de Ator Coadjuvante, Mo`Nique é uma das maiores barbadas da noite de domingo. O desempenho impressionante da atriz vale todo o filme.

Qual seria o meu voto: Mo´Nique.

Se vencer, eu mato um: qualquer outra.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios)
Mark Boal (Guerra ao Terror)
Joel e Ethan Coen (Um Homem Sério)
Alessandro Camon e Oren Moverman (O Mensageiro)
Bob Peterson e Pete Docter (Up – Altas Aventuras)

Vai vencer: “Bastardos Inglórios”.

Explicando a escolha: o filme de Tarantino deve ser recompensado na categoria de roteiro original. Os demais concorrentes aparecem mais fracos na disputa.

Qual seria o meu voto: “Bastardos Inglórios”.

Se vencer, eu mato um: “Guerra ao Terror”.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Jason Reitman e Sheldon Turner (Amor Sem Escalas)
Neill Blomkamp (Distrito 9″)
Nick Hornby (Educação)
Geoffrey Fletcher (Preciosa)
Jesse Armstrong, Samon Blackwell, Armando Iannucci e Tony Roche (In the Loop)

Vai vencer: “Amor Sem Escalas”

Explicando a escolha: o roteiro de “Amor Sem Escalas” é o ponto alto do filme e deve ser agraciado. Na briga, o excelente “Distrito 9” pode surpreender, porém a Academia é muito conservadora para premiar uma ficção científica.

Qual seria o meu voto: “Amor Sem Escalas”.

Se vencer, eu mato um: “Preciosa” é menor perante os demais candidatos.

MELHOR ANIMAÇÃO
Coraline e o Mundo Secreto
O Fantástico Sr. Raposo
A Princesa e o Sapo
The Secret of Kells
Up – Altas Aventuras

Vai vencer: “Up – Altas Aventuras”

Explicando a escolha: “Up” é mais uma das barbadas da noite. Foi indicado a Melhor Filme enquanto as demais animações não. Se perder é porque a Academia está ficando com Alzheimer.

Qual seria o meu voto: “O Fantástico Sr. Raposo”. Sou fã do Wes Anderson.

Se vencer, eu mato um: “Coraline” me decepcionou.

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
Rick Carter, Robert Stromberg, Kim Sinclair (Avatar)
Dave Warren, Anastasia Masaro, Caroline Smith (O Mundo Imáginário do Dr. Parnassus)
John Myhre, Gordon Sim (Nine)
Sarah Greenwood, Katie Spencer (Sherlock Holmes)
Patrice Vermette, Maggie Gray (The Young Victoria)

Vai vencer: “Avatar”.

Explicando a escolha: o mundo criado por James Cameron é um universo impressionante, que mescla elementos gráficos de cair o queixo com a densidade filosófica de crenças de um povo poderoso. Só isso deixa os demais concorrentes bem longe.

Qual seria o meu voto: “Nine”.

Se vencer, eu mato um: “The Young Victoria”. O filme é muito bom e tem uma direção de arte eficiente. Pode ficar contente com a indicação.

MELHOR FOTOGRAFIA
Mauro Fiore (Avatar)
Bruno Delbonnel (Harry Potter e o Enigma do Príncipe)
Barry Ackroyd (Guerra ao Terror)
Robert Richardson (Bastardos Inglórios)
Christian Berger (A Fita Branca)

Vai vencer: “Avatar”.

Explicando a escolha: ganhando o Oscar de Melhor Filme, a produção deve receber os demais prêmios em categorias técnicas - já que não concorre com roteiro e atores.

Qual seria o meu voto: “Bastardos Inglórios”.

Se vencer, eu mato um: “Guerra ao Terror”?

MELHOR FIGURINO
Janet Patterson (O Brilho de uma Estrela)
Catherine Leterrier (Coco Antes de Chanel)
Monique Prudhomme (O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus)
Colleen Atwood (Nine)
Sandy Powell (The Young Victoria)

Vai vencer: O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus

Explicando a escolha: “Coco Antes de Chanel” decepciona tanto como filme como nos figurinos da protagonista. Espero que não ganhe. “Nine” foi massacrado pelos críticos e não deve levar nada. “The Young Victoria” é apenas correto. “O Brilho de Uma Paixão” não assisti. Deixo a aposta para o universo fantástico do filme de Terry Gilliam.

Qual seria meu voto: “Nine”.

Se vencer, eu mato um: “Coco Antes de Chanel”.

MELHOR EDIÇÃO
Stephen Rivkin, John Refoua e James Cameron (Avatar)
Julian Clarke (Distrito 9)
Bob Murawski e Chris Innis (Guerra ao Terror)
Sally Menke (Bastardos Inglórios)
Joe Klotz (Preciosa)

Vai vencer: “Guerra ao Terror”

Explicando a escolha: “Avatar” e “Bastardos Inglórios” por serem extensos acabam se tornando levemente irregulares na montagem. “Guerra ao Terror” deve vencer por ser mais coerente e criar cenas tensas graças à sua edição.

Qual seria o meu voto: “Distrito 9” é redondinho.

Se vencer, eu mato um: sem mortes aqui.

MELHOR MAQUIAGEM
Aldo Signoretti e Vittorio Sodano (Il Divo)
Barney Burman, Mindy Hall e Joel Harlow (Star Trek)
Jon Henry Gordon e Jenny Shircore (The Young Victoria)

Vai vencer: “Star Trek”.

Explicando a escolha: por eliminatória. Não assisti “Il Divo” e “The Young Victoria” não apresenta revoluções na técnica.

Qual seria o meu voto: “Star Trek”.

Se vencer, eu mato um: sem mortes aqui.

MELHOR TRILHA ORIGINAL
James Horner (Avatar)
Alexandre Desplat (O Fantástico Sr. Raposo)
Marco Beltrami e Buck Sanders (Guerra ao Terror)
Hans Zimmer (Sherlock Holmes)
Michael Giacchino (Up – Altas Aventuras)

Vai vencer: “Up – Altas Aventuras”.

Explicando a escolha: pela sequencia inicial.

Qual seria o meu voto: “O Fantástico Sr. Raposo”. Perfeita trilha.

Se vencer, eu mato um: sem mortes aqui.

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Almost There, de A Princesa e o Sapo (Música e Letra de Randy Newman
Down in New Orleans, de A Princesa e o Sapo (Música e Letra de Randy Newman
Loin de Paname, de Paris 36 (Música de Reinhardt Wagner; Letra de Frank Thomas)
Take It All, de Nine (Música e Letra de Maury Yeston)
The Weary Kind, de Coração Louco (Música e Letra de Ryan Bingham e T-Bone Burnett)

Vai vencer: “Coração Louco”.

Explicando a escolha: a música representa a superação do personagem de Bridges. Em relação aos demais, podemos descartar as músicas de “A Princesa e o Sapo”, enquanto “Take it All” é ótima, mas não o ápice de “Nine”.

Qual seria o meu voto: na falta de “Be Italian” ou “Cinema Italiano”, fico com a única representante do filme “Nine”.

Se vencer, eu mato um: sem mortes aqui.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Christopher Boyes e Gwendolyn Yates Whittle (Avatar)
Paul N.J. Ottosson (Guerra ao Terror)
Wylie Stateman (Bastardos Inglórios)
Mark Stoeckinger e Alan Rankin (Star Trek)
Michael Silvers and Tom Myers (Up – Altas Aventuras)

Vai vencer: “Avatar”.

Explicando a escolha: você assistiu no cinema?

MELHOR MIXAGEM DE SOM
Christopher Boyes, Gary Summers, Andy Nelson e Tony Johnson (Avatar)
Paul N.J. Ottosson e Ray Beckett (Guerra ao Terror)
Michael Minkler, Tony Lamberti e Mark Ulano (Bastardos Inglórios)
Anna Behlmer, Andy Nelson e Peter J. Devlin (Star Trek)
Greg P. Russell, Gary Summers e Geoffrey Patterson (Transformers: A Vingança dos Derrotados)

Vai vencer: “Avatar”

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Joe Letteri, Stephen Rosenbaum, Richard Baneham e Andrew R. Jones (Avatar)
Dan Kaufman, Peter Muyzers, Robert Habros e Matt Aitken (Distrito 9)
Roger Guyett, Russell Earl, Paul Kavanagh e Burt Dalton (Star Trek)

Vai vencer: “Avatar”

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Ajami (Israel)
El Secreto de Sus Ojos (Argentina)
A Teta Assustada (Peru)
O Profeta (France)
A Fita Branca (Alemanha)

Vai vencer: “A Fita Branca”.

Explicando a escolha: chegou a vez de premiar o cultuado diretor Michael Haneke.

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
French Roast, de Fabrice O. Joubert
Granny O’Grimm’s Sleeping Beauty, de Nicky Phelan e Darragh O’Connell
The Lady and the Reaper, de Javier Recio Gracia
Logorama, de Nicolas Schmerkin
A Matter of Loaf and Death, de Nick Park

Vai vencer: “French Roast”.

Explicando a escolha: A Academia gosta das histórias de Wallace & Gromit, mas espero que o fraquíssimo “A Matter of Loaf and Death” não ganhe. “Logorama” tem caráter cult e nerd. Duvido muito. “The Lady and the Reaper” tem animação e história no estilo "Looney Tunes". A dúvida é: “French Roast” ou “Granny O´Grimm´s Sleeping Beauty”. O primeiro é uma linda fábula. Fico com esse.

Qual seria o meu voto: “French Roast”, animação refinada e com moral.

Se vencer, eu mato um: “A Matter of Loaf and Death”.

MELHOR CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO
The Door, de Juanita Wilson e James Flynn
Instead of Abracadabra, de Patrik Eklund e Mathias Fjellström
Kavi, de Gregg Helvey
Miracle Fish, de Luke Doolan e Drew Bailey
The New Tenants, de Joachim Back e Tivi Magnusson
Melhor Documentário
Burma VJ, de Anders Østergaard and Lise Lense-Møller
The Cove
Food, Inc., de Robert Kenner and Elise Pearlstein
The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers, de Judith Ehrlich and Rick Goldsmith
Which Way Home, de Rebecca Cammisa

MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
China’s Unnatural Disaster: The Tears of Sichuan Province, de Jon Alpert e Matthew O’Neill
The Last Campaign of Governor Booth Gardner, de Daniel Junge e Henry Ansbacher
The Last Truck: Closing of a GM Plant, de Steven Bognar e Julia Reichert
Music by Prudence, de Roger Ross Williams e Elinor Burkett
Rabbit à la Berlin, de Bartek Konopka e Anna Wydr


Prefiro não opinar quanto as categorias de curta-metragem e documentários. Não assisti nenhum.