Uma Semana


Chegam momentos na vida em que é preciso repensar sobre o caminho que trilhamos até aquele instante. Para Ben Tyler, protagonista de "Uma semana", esse confronto aparece após descobrir que sofre de um câncer terminal. A situação fará com que ele parta em uma viagem de autodescobrimento pelas estradas do Canadá. Uma semana é uma pequena joia entre as produções independentes, valorizada principalmente por apresentar uma das mensagens mais verdadeiras sobre o que realmente vale a pena na vida.

A história é sobre Ben (Joshua Jackson), um jovem professor de Ensino Fundamental que está noivo de Samantha (Liane Balaban). Ele vive uma rotina de acomodação, um dia depois do outro, sem previsão de mudanças. Insatisfeito com essa realidade, Ben só encontra motivação para realizar seus desejos quando recebe a notícia que possui no máximo dois anos de vida. Compra uma motocicleta e parte sem destino para inúmeras cidades do país, a fim de viver uma aventura. Uma história que, segundo ele, “valha uma vida”.

O filme é inteiramente narrado pelo ator Campbell Scott, que permeia a narrativa com belas e inspiradores frases sobre o sentido da vida. Ben, ao se afastar do trabalho e da família, começa a colocar em jogo o que construiu durante esse tempo, principalmente seu relacionamento com Samantha. A forma como a produção discute o amor é ao mesmo tempo melancólica e bonita. Enquanto isso, em sua jornada, o protagonista encontra diversas pessoas que o ajudarão nesse processo de tentar se encontrar.

Ben arrisca e vai em busca do que lhe faz feliz. Acompanhar essa trajetória faz com que o espectador também pense sobre a sua própria caminhada. Em certo trecho, o narrador diz: “O que você faria se soubesse que tem apenas mais um dia, uma semana ou um mês de vida? A que bote salva-vidas você se agarraria? Para qual pessoas declararia seu amor? Qual desejo realizaria?”. Questões que, mesmo sem ter a urgência de um prazo como Ben, acabam encontrando identificação geral.

Uma semana é um road movie que encanta por encontrar beleza na simplicidade. É honesto, poético e real. Conta ainda com boas atuações de Jackson e Balaban; além de conferir destaque para a trilha sonora carregada de emoção e formada apenas por bandas canadanses. O filme, lançado em 2008, não recebeu merecida atenção em seu lançamento e acabou restrito aos países da América do Norte, sem distribuição mundial. Se surgir a oportunidade, não deixe de assistir.

Nota: 8

Projeto X - Uma Festa Fora de Controle


"Projeto X" convida o espectador a acompanhar a maior festa adolescente jamais imaginada. Mais de 1,5 mil estudantes divertiram-se durante uma noite em residência no subúrbio dos Estados Unidos. Música, drogas, jogos alcoólicos e putaria não poderiam faltar. Mas, esta balada sem limites tem muito mais surpresas. E os estragos serão catastróficos. Este novo projeto de Todd Phillips, diretor de Se beber, não case 1 e 2, oferece duas opções: se divertir e rir de toda confusão ou colocar-se no lugar do dono da casa e não curtir o filme direito.

Thomas (Thomas Mann) está de aniversário e seus pais foram viajar durante o final de semana. Com a casa liberada, ele e mais dois amigos organizam uma festa para comemorar a data e, de quebra, ganhar popularidade na escola. Os garotos convidam todos que encontram pelo caminho com medo de que ninguém compareça ao local. Ao contrário do que pensavam, as pessoas não param de chegar e a celebração perde o controle conforme os convidados vão ficando cada vez mais bêbados e inconsequentes.

Se não bastasse andar de skate no telhado, tomar banho de piscina sem camisa (inclusive as meninas), utilizar quartos da casa para fazer sexo e amarrar balões de gás hélio para fazer um cachorro literalmente voar, a festa chega ao extremo quando um anão furioso provoca o caos e um piromaníaco decide que tudo vai abaixo. A polícia chega ao local por reclamação dos vizinhos e os adolescentes tomam conta da rua, entrando em conflito com os policiais. O evento chega a ser transmitido pela televisão, ao vivo.

Tantos absurdos podem soar pura invenção do roteiro, mas a história de "Projeto X" é baseada em um fato real que ocorreu na Austrália, em 2008. O jovem de 16 anos, Corey Worthington, divulgou uma festa em sua casa no MySpace e atraiu mais de 500 pessoas. Os vizinhos assustados chamaram a polícia, que foi recebida com garrafadas, além de ter os carros destruídos. Os estragos chegaram a mais de 20 mil dólares.

O filme utilizou o acontecimento verídico como base para criar uma série de situações hilárias. A garotada assistiu o filme e aprovou as loucuras de "Projeto X", transformando-o em hit entre os adolescentes e influenciando a reproduzir na realidade festas naquelas proporções. Uma dessas baladas inspiradas no longa-metragem terminou na morte de um dos convidados, quando adolescentes brigaram e resolveram o conflito com tiros.

A partir desse caso, o filme recebeu críticas de que incita a irresponsabilidade dos jovens. O diretor estreante Nima Nourizadeh e o produtor Todd Phillips não acreditam que as acusações fazem justiça ao filme, já que cada um se inspira na produção de um jeito. Os adultos, principalmente os pais, torcerão o nariz para o filme, mas a Geração Y vibrará com cada excesso cometido em cena. Apesar da polêmica, "Projeto X" provavelmente será a festa mais insana que o espectador está convidado a participar.

Nota: 7

Branca de Neve e o Caçador


“Branca de Neve e o Caçador” é tudo que “Alice no país das maravilhas”, de Tim Burton, não conseguiu ser: uma releitura envolvente e interessante sobre um conto infantil. E este recente lançamento tem vantagens, como o tom sombrio, as imagens deslumbrantes (sem ser carnavalescas) e o clima épico do início ao fim. Porém, para curtir essa aventura, é preciso desprender-se do texto original e embarcar em adaptação livre sobre a fábula dos irmãos Grimm.

A Branca de Neve veste armadura e lidera uma batalha, os anões ganham mais um companheiro e totalizam oito, a Floresta Negra é uma armadilha mutante e um trasgo (monstro parecido com um troll) aparecem na mistura proporcionada pelo filme. Tantos elementos novos surgem nesta versão, mas, por incrível que pareça, não a tornam forçada. O roteiro realiza milagre ao transformar o pequeno conto em uma história medieval de grandes porporções dramáticas.

Na trama, Banca de Neve (Kristen Stewart) completa 18 anos e se torna uma ameaça para sua madrasta, a rainha Ravenna (Charlize Theron), que até então era a mais bela de todas. Antes que o plano malígno da rainha se concretize, Branca foge do castelo em direção a Floresta Negra. Ravenna envia um caçador (Chris Hemsworth) para capturar e matar a jovem. O tom da narratica não é infantil. O clima soturno e a maldade da vilã mostram que o filme está bem longe de outra versão lançada este ano, Espelho, espelho meu.

Uma jogada interesse do roteiro é não comparar a beleza de Charlize Theron com a de Kristen Stewart. O roteiro apresenta Branca de Neve tão poderosa quanto a rainha porque possui duas virtudes: pureza e inocência. O que fica em desnível é a entrega de Theron a hipnotizante rainha com a apatia de Stuart como a heroína da produção. A mesma sem gracisse de Bella Swan na saga Crepúsculo persiste na atuação da atriz. O destaque vai também para Hemsworth, que consegue criar um personagem interessante, além de força e músculos.

Como é grandioso em tudo, o filme investe em inúmeras cenas de luta e batalha, deixando a história sempre movimentada. As imagens belíssimas de cada frame são tão impactantes visualmente que indicações ao Oscar já estão praticamente garantidas. A direção de arte e o figurino não são carregados, alegóricos, como o carnaval de “Alice no país das maravilhas”. O clima é obscuro, sujo e de elementos lúgrubres, como corvos, castelos imponentes e magia das trevas.

O diretor estreante Rupert Sanders, originário do mercado publicitário, acerta a mão com sua aventura épica e proporciona diversão para toda família. O blockbuster cumpre ser um bom passatempo pipoca e firma-se como a melhor adaptação adulta de um conto infantil para telonas. A resposta da crítica, público e bilheteria foi tão positiva que uma continuação está em negociação e uma franquia se projeta para os próximos anos. Tudo muito bonito, desde que a rainha má esteja presente.

Nota: 8

Martha Marcy May Marlene


Sabe aqueles filmes que são feitos para confundir e não explicar nada? É assim “Martha Marcy May Marlene”, produção americana lançada ano passado em circuito alternativo que tem como destaque a atuação de Elizabeth Olsen, a terceira irmã das gêmeas Mary-Kate e Ashley. Mistura de alucinação e realidade em uma trama que pode ou não estar invertida. Isso faz algum sentido? Não muito. O filme é um quebra-cabeças lento (leia-se muito lento), de momentos tensos e com uma história pesada.

O drama psicológico inicia quando a jovem Martha, interpretada por Olsen, foge de casa. Aos poucos descobrimos que essa residência é a sede de um culto abusivo, uma comunidade de pessoas perdidas que se sujeitam ao dominador Patrick (John Hawkes) – algo semelhante a seita de Charles Manson. A garota busca auxílio com a irmã Lucy (Sarah Paulson) e seu marido (Hugh Dancy). O casal acolhe Martha e passa a ter problemas com as atitudes pouco comuns da jovem.

Assombrada pelas recordações dolorosas dessa experiência anterior, Martha apresenta calmamente o que foi habitar uma comunidade que abdica dos valores contemporâneos para viver numa ideologia do passado. Homens e mulheres não dividem a mesa durante as refeições, os alimentos são cultivados em uma horta ou caçados na floresta, não há interferências tecnológicas, a única diversão é através de instrumentos musicais. A situação complica quando essas ações retrógradas ganham ares cada vez mais invasivos.

O líder Patrick comanda a comunidade de forma machista, aproveitando da ingenuidade de seus companheiros alienados. Ele pode, quando quiser, dormir com qualquer uma das mulheres do grupo. Se precisa de dinheiro, obriga que os habitantes solicitem o montante às suas famílias. E, junto com seus comparsas, realiza assaltos a casas luxuosas. Esse ambiente violento, tanto como físico como psicológico, torna-se cada vez mais sufocante para Martha.

Na casa da irmã, a garota deveria buscar a reintegração com a família após ter sumido por dois anos. Porém, na verdade, ela demonstra estar ali como hóspede. E o pior: comporta-se como uma selvagem, não sabendo o que é certo ou errado, demonstrando como a seita interferiu no inconsciente de Martha, deixando-a sem controle de suas atitudes. Ao na mesmo tempo, a narrativa começa a sugerir que os acontecimentos na comunidade podem ser alucinação da garota.

O roteiro não busca oferecer respostas. Ficamos sem saber porque Martha foi parar no culto, de que maneira esses hábitos bizarros foram desenvolvidos e muito menos o que acontece com ela ao término de sua estada na casa da irmã. Certas sequências colocam espaço e tempo em dúvida, como quando ela telefona para a casa do grupo. E, por fim, o filme ainda questiona a ordem dos fatos na narrativa. Certamente esses são exemplos de que a intenção é originar um quebra-cabeças a fim de confundir o espectador. Ou então conferir caráter cult à produção.

Se a confusão mental não é muito atrativa, o filme tem seu valor na qualidade técnica: brilhante direção (é do estreante Sean Durkin toda carga dramática e o tom melancólico da produção), fotografia (tons pastéis de uma beleza sublime), edição (fusões inteligentes entre passado/presente) e boas atuações de todo elenco, principalmente, de Elizabeth Olsen - surpreendente como a protagonista arisca e de poucas palavras. Apesar do aparato de produção funcionando, o roteiro perturbador e capaz de provocar um nó na cabeça deixa a sensação de vazio, de história incompleta. Assim, “Martha Marcy May Marlene” é uma experiência desconfortante.

Nota: 5,8

Hysteria


Esta comédia romântica inglesa conta a história do homem que criou o vibrador. Hugh Dancy (“Adam”, “Ao Entardecer”) é o jovem médico que começa a trabalhar como assistente do Dr. Robert Dalrymple (Jonathan Pryce), famoso por tratar casos de histeria. A doença era comum em donas de casa entendiadas que apresentavam sintomas de ansiedade, nervosismo e depressão. O tratamento era simples: masturbação.

Assim, uma fila de mulheres lotava o consultório do Dr. Dalrymple. Todas esperando que seus dedos milagrosos curassem as crises de histeria. O mais engraçado é que em 1880 essa técnica de tratamento era bem aceita pela sociedade machista – ou então as mulheres não contavam para seus maridos o que se passava na consulta.

Por utilizar constantemente seus dedos, o jovem médico começa a sentir dor e não consegue aplicar o tratamento da melhor maneira. Então, tem a ideia de usar um equipamento elétrico para reproduzir a mesma satisfação proporcionada por seus gentis toques. Surge então o vibrador, um aparelho rústico que iria evoluir durante as décadas e continuar fazendo sucesso até a atualidade.

A história real é bastante interessante, mas o tom de comédia, o acúmulo de clichês e o formato convencional não ajudam. Além disso, o roteiro acaba investindo mais nas dúvidas amorosas do protagonista, dividido entre as filhas do doutor, interpretadas por Felicity Jones e Maggie Gyllenhaal – os três extremamente competentes em seus papéis. Infelizmente, a atração principal do projeto, o vibrador, fica de lado e somente mostra a que veio nos 20 minutos finais da produção.

Nota: 6,5