Quem Quer Ser Um Milionário?


O mais recente longa-metragem do diretor Danny Boyle difere bastante do que ele havia produzido anteriormente. Pode-se dizer que utilizou alguns elementos de “Trainspotting”, como o estilo videoclipe, e a doçura de “Caiu do Céu”, que surge como uma espécie de fábula. E “Quem Quer Ser Um Milionário?” é exatamente isso: uma fábula moderna. Acima de tudo, o filme é um romance avassalador que percorre muitos anos nas vidas dos protagonistas. Jamal é um garoto da periferia que participa de um ‘Jogo do Milhão’ indiano para conseguir o amor de Latika.

O inusitado é perceber que a direção do filme é muito semelhante aos trabalhos do brasileiro Fernando Meirelles. Um bom pedaço do projeto aborda temas do submundo da Indía, no qual a composição de cena é parecida com “Cidade de Deus” e “O Jardineiro Fiel”. Os ângulos tortos, a saturação de cores, os closes nos atores, a trilha sonora marcante e a edição acelerada geram um mosaico convidativo e, por mais que lembre outros filmes, segue tendo personalidade.

Embora previsível, o roteiro conquista o público com o drama da infância e adolescência de Jamal e, em seguida, com sua história de amor. Boyle distancia-se da filmografia alternativa que exaltou em projetos anteriores e cria sua obra mais comercial, misturando açucar com violência. “Quem Quer Ser Um Milionário?” é tenso e emocionante, um trabalho que mexe mais com as emoções e é indicado para os românticos (ou não).

Nota: 8,5

Pagando Bem, Que Mal Tem?


Que decepção, Kevin Smith! O diretor mais nerd de todos os tempos – rótulo que ele próprio se deu - bem que poderia entregar um filme muito melhor. O maior acerto do projeto, sem dúvida, é a brincadeira com “Star Wars”, fora isso as referências a cultura pop mal aparecem. A campanha do longa-metragem investiu em destacar críticas que apontavam o produto como uma máquina de risos. Total enganação!

Vamos ao plot: Zack e Miri são dois amigos que dividem o aluguel e estão endividados até o último fio de cabelo. A solução encontrada para livrarem-se das dívidas é fazer um filme pornô caseiro (!). E, assim, acompanhamos o que deveria ser a divertida saga da dupla na tentativa de filmar o tal vídeo.

Contando com um Seth Rogen em alta e uma bela Elizabeth Banks, o cineasta não aproveita as qualidades da dupla e nem consegue o mínimo: obter uma química verdadeira entre os protagonistas. Boa parte das cenas que deveriam ser engraçadas geram mais constrangimento frente aos fatos do que levam as risadas. Para completar, ao final, a produção do material pornô é deixada de lado e entra no lugar um bobo romance.

Em “Rebobine Por Favor”, o diretor Michel Gondry tinha uma história parecida com e soube criar um ótimo filme. Kevin Smith erra feio e perde a boa idéia que tinha em mãos. A fita não é nada além do que ordinário, sendo assim, lamentável para um filme (e diretor) que tinha tanto a explorar.

Nota: 4,0

Vicky Cristina Barcelona


Há quem diga que Woody Allen não é mais o mesmo. O gênio de 73 anos é praticamente o único cineasta a escrever e dirigir um filme por ano – uma média seguida à risca e de forma invejável. Em 2005, ele já havia provado que continuava sagaz e trágico com “Match Point”, e se “Scoop” não demonstrou todas suas qualidades, pelo menos rendeu um filme divertidíssimo, uma comédia muito acima da média. No ano passado tivemos “O Sonho de Cassandra”, um drama policial irônico bem no estilo do diretor, que acabou subestimado pela crítica.

O projeto de 2008 foi “Vicky Cristina Barcelona”, que marca uma nova mudança de ares na carreira de Woody: após filmar três longas na capital inglesa, o diretor transformou a cidade espanhola em um coadjuvante de luxo do seu novo filme. O clima da produção é de total deleite: personagens boêmios, muita tensão sexual, belos diálogos, cenas verdadeiramente engraçadas e tomadas de uma Barcelona deslumbrante.

Logo no início, somos apresentados as duas personagens do título: Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), duas amigas que pensam completamente diferente quando a questão é “amor”. Enquanto Cristina é uma mulher de se entregar e viver uma paixão, Vicky é mais racional e mantém uma relação estável com seu noivo. As duas partem para uma viagem de férias na Espanha e acabam sendo abaladas pela presença sedutora de um artista (Javier Barden), e posteriormente, de sua esposa desequilibrada (Penélope Cruz).

Como a maioria das obras que integram sua filmografia, “Vicky Cristina Barcelona” aborda temas simples de forma encantadora, valorizando o texto nas tradicionais sutilezas. O elenco afiadíssimo enaltece o resultado frente às câmeras, com destaque para uma Penélope Cruz fenomenal. Vale prestar atenção no desempenho da novata Rebecca Hall, que já recebeu uma indicação ao Globo de Ouro.

Nota: 8,5

Os Estranhos


Talvez o público adolescente acostumado com a série “Jogos Mortais” não esteja preparado para um filme de suspense como “Os Estranhos”. Classificado como “um terror à moda antiga”, a produção opta por gelar o sangue do espectador com sequências silenciosas e que geram muito mais tensão e medo do que os sustos fáceis.

A premissa é simples: Kristin e James estão passando uma temporada na remota casa de veraneio dos pais dele, no interior dos Estados Unidos. Certa noite, os dois chegam de uma festa na qual acabaram brigando e, logo em seguida, passam a ser aterrorizados por quatro mascarados que estão dispostos a levá-los ao limite do desespero.

A frase “baseado em fatos reais” que aparece logo no início do filme é totalmente ilusória. Basta assistir o filme até o fim e comprovar que era impossível saber exatamente o que aconteceu naquela noite de horror. Desconsiderando isto, o filme mostra-se um bom exemplar do gênero, sufocando o público com os jogos doentios dos psicopatas.

Nota: 7,0